segunda-feira, 17 de junho de 2013

Um cão fora do pátio

Bem, a pedidos estou iniciando este blog, bem informal e mal escrito, mas que serve pra contar um pouco de minha experiência vivendo fora. Claro que foram poucos que pediram, mas enfim... neste primeiro post, decidi explicar como foi meu dia, e o quão corrido ele foi. O post ficou atropelado, mas foi como eu me senti em meu primeiro dia aqui em Portugal.

Queria iniciar explicando o título do blog, e o título deste primeiro post. Após o choque da viagem, e de me estabelecer no meu cafofo, refleti sobre o que me aconteceu (e agora vou escrever um pouco das minhas experiências). Destas minhas reflexões, fiz um paralelo entre eu e um cachorro que acabou de fugir pelo portão de casa. Bem, não vou me alongar sobre esta comparação, cada um sabe como fica um cachorro quando foge, mas saibam que pelo menos eu não fico tentando demarcar território por aí.

Iniciarei o blog falando como foi a "fuga" do portão. Não fui um fugitivo, os que cuidam de mim sabiam muito bem o que eu estava fazendo, e devo dizer que abriram o portão para mim, e me ajudaram com alguns empurrões. A ajuda dos meus pais com certeza merece destaque, não só pelo apoio antes da viagem, como o durante a minha estada aqui. Em uma de minhas conversas com minha mãe, ela me disse que sabia que eu uma hora ia fazer isso. Eu devia ser um cachorro bem chato, sempre olhando pro portão quando estava se fechando ou abrindo, imagino. Mas enfim, minha segunda viagem de avião (a primeira foi com o Mateus e o Daniel, para São Paulo) foi um belo chá de cadeira de 11 horas dentro avião, e minha primeira vez num aeroporto sozinho foi numa madrugada no Bajaras, um aeroporto gigantesco em Madrid, onde tive que caminhar 30 minutos e pegar um metrô que existe dentro do aeroporto para me deslocar do setor de desembarque até o de embarques!

 Foi neste aeroporto que coisas estranhas começaram a ocorrer. Eu estava sentado numa boa no aeroporto quando vi de relance um passaporte azul com o cruzeiro do sul. Ansioso, cheguei já perguntando pro senhor do lado: "Brasileiro?". Ele respondeu que sim, que era professor universitário da Federal do Paraná e que estava indo pesquisar três meses na Universidade de Aveiro. Conversamos um pouco até que um terceiro sujeito perguntou se éramos brasileiros. Este sujeito nada mais era do que um Venezuelano, dono de uma rede de restaurantes em Caracas, que morava em Aveiro e era casado com uma mulher da Bielo-Russia. Tão exótico que eu já estava intrigado. Conversa vai, conversa vem e ele nos disse: "Como somos todos da América do Sul, todos irmãos, vou ajudar vocês e dar boleia." Fiquei preocupado, mas qualquer coisa era só pular do carro em movimento... Chegamos em Porto numa manhã fria e chuvosa e lá fomos nós até o carro do venezuelano. O carro era bom, carrão mesmo, e logo pegamos a estrada. Porto me encantou logo de cara e a estrada estava uma confusão. Na noite anterior havia passado um tufão que arrancou árvores por todo o lado, casas ficaram sem telhas e muitas plantações se perderam. Fomos conversando na viagem e ele foi nos mostrando um pouco de Portugal. A simpatia e a ajuda do venezuelano foi tanta que logo perdi o receio, apesar de ficar o tempo todo agarrado à mochila e pronto para abrir a porta e saltar. Ao chegarmos em Aveiro, ele me deixou na estação de comboios e foi embora. Nunca mais o vi, ou o verei. Esta é uma tônica desta viagem. Lugares e pessoas passam, passaram ou vão passar e será único, nunca mais verei.

Isto tudo ocorreu e nem era hora do almoço! Em Aveiro passei frio e esperei o comboio atrasado em 30 minutos! Aqui em Portugal tudo atrasa, hoje estou acostumado, mas na época para mim esta meia hora foi um absurdo! Um primeiro contato ruim para uma cidade tão gostosa e linda! Mas isso não vem ao caso agora, cheguei em Coimbra e finalmente respirei!!! Nem acreditava, estava na chuvosa, fria e ventosa Coimbra depois de um dia de viagem! Não tinha planejado o que fazer quando chegasse em Coimbra. Peguei a mala e fui atrás de hostel. No hostel Serenata (se um dia vierem para Coimbra recomendo demais) tive bons momentos. Conheci um brasileiro, um eslovaco e dois eslovenos. Depois de não dormir um dia inteiro no avião, ainda fomos jantar e depois saímos e aproveitamos a noite chuvosa de Coimbra. A primeira das noites encantadas nessa cidade. Finalmente, depois de umas 48 horas acordado, consegui fazer com que a minha cabeça parasse de funcionar e dormi. A ficha não havia caído ainda, e ia demorar pra cair, mas eu estava longe do meu pátio, sozinho, pela primeira vez em minha vida.